Presidente da mineradora, Jayme Nicolato, diz ter plano estratégico de “coisas concretas” e usa de cautela para traçar meta de produção de 15 milhões de toneladas em Minas.
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Foto: Divulgação |
Segundo ele, a companhia tem atualmente US$ 200 milhões em
caixa. O montante é parte dos US$ 1,2 bilhão levantados por investidores
ingleses quando da criação da mineradora em 2007. A Ferrous já investiu
US$ 1 bilhão na operação em quatro minas, com a quais pretende atingir
volume de 3 milhões de toneladas comercializadas neste ano com aporte
adicional de US$ 50 milhões - a venda dessa pilha de minério deve gerar
US$ 300 milhões de receita. A geração própria é o que deve pagar parte
do investimento previsto até 2015. Para isso, a empresa projeta produzir
5 milhões de toneladas a partir de 2013. “Com esse volume, a geração de
caixa [anual] será de US$ 560 milhões”, diz Nicolato.
A provisão própria será o combustível do aporte bilionário
previsto para explorar Viga, cuja reserva comercializável é de 1,5
bilhão de toneladas de minério. O presidente da mineradora afirma que a
capitalização a partir de repasse dos controladores e autogerarão de
caixa dão segurança para não procurar um parceiro estratégico até 2015.
Ele também descarta a abertura de capital (IPO, na sigla em inglês),
ensaiada em três oportunidades (2007, 2008 e 2010). “Hoje, não
precisamos pensar nessa possibilidade [IPO]”, afirma. “O IPO está
descartado? Diria que não. Mas vai depender dos acionistas”, diz.
O discurso moderado de Nicolato, ex-Vale e CSN, é parte da
reformulação da estratégia e do plano de negócios da Ferrous depois
bastante burburinho gerado pela administração anterior. No cargo há
três, após ter deixado a CSN, o executivo se mostra com os pés no chão
sobre a realidade do mercado e as dificuldades de implantar projetos
saídos do zero. “O plano de negócios é baseado em coisas concretas, em
entrega”, diz. “Tudo nesse mercado é uma questão de confiança. Todas as
empresas no Brasil estão passando pela desconfiança de entrega dos
empreendimentos”, avalia.
Investimento total pode ir a US$ 3,3 bi
A Ferrous prevê elevar o volume de produção para 42 de
milhões de toneladas de minério com 62,5% de teor de ferro em 2025, mas
deixou de lado as projeções bilionárias de investimentos. Isto porque,
os levantamentos de capital ensaiados com o IPO não encontraram no
mercado ressonância no mesmo grau das expectativas da companhia. Por
isso, o novo presidente da mineradora é mais cauteloso em comentar
números futuros para evitar a desconfiança em relação à exploração de
outras quatro reservas em Minas e na Bahia, cujo potencial explorável
total é de 5 bilhões de toneladas. “Só vamos levantar capital para novos
projetos quando estiver tudo na mão: todas as LI [licenças de
instalação], estudos econômicos e de viabilidade [de engenharia e
comercial]. Essa é a principal mudança na estratégia da Ferrous”,
indica.
Apesar da postura cautelosa, Nicolato aponta que os novos
aportes em cifras consistentes podem ser realizados a partir de 2015.
Segundo ele, o custo de implantação por tonelada em Viga será de US$ 80.
“Esse capex [investimento] deve se manter”, diz.
Se a margem de investimento por tonelada de mantiver, para
atingir as 27 milhões de toneladas restantes serão necessários US$ 2,16
bilhões. Com isso, para atingir as 42 milhões de toneladas a empresa
precisaria desembolsar no total US$ 3,36 bilhões.
O montante não inclui a construção de um porto em Anchieta,
no litoral do Espírito Santo, nem a construção de um minerioduto levando
a matéria-prima de Minas Gerais para o terminal logístico capixaba.
Ambos os projetos voltam para a prancheta até segunda ordem. Por ora,
para escoar as 15 milhões de toneladas previstas a Ferrous irá usar a
malha ferroviária da MRS Logística. Em cada uma das quatro reservas em
Minas, a empresa irá construir terminais pátios para empilhar o minério e
fazer o transbordo para os vagões da MRS. Em viga, o pátio tem
capacidade para operar 18 milhões de toneladas por ano.
Tonelada a US$ 105
A aposta da Ferrous é de que até 2015, o preço FOB da tonelada
de minério de ferro produzido no Brasil chegue à China por US$ 105. A
projeção, abaixo da média atual da cotação da commodity de US$ 140, é o
cenário no qual a mineradora trabalha para operar com margem folgada de
lucro. “A gente acredita que o preço no longo prazo, até 2020, irá se
manter em US$ 105 por tonelada. Esse preço vai sustentar a expansão [de
projetos de mineração] no Brasil”, afirma.
Após 2020, contudo, o horizonte ainda é turvo. O executivo, com
mais de 20 anos de experiência em mineração, passando por diretoria da
Vale e responsável por desenhar o modelo minerador da CSN, vê em países
do oeste da África uma ameaça ao posto ocupado pelo Brasil de segundo
maior produtor de minério de ferro. “Sou de uma época em que a produção
da empresa que eu trabalhava [a Vale dos anos 1990] produzia mais do que
a Austrália”, recorda.
As anglo-australianas BHP Billinton e Rio Tinto bateram em
volume a produção brasileira. Segundo Nicolato, para 2015 a produção de
ferro na Austrália atingirá 690 milhões de toneladas, enquanto a
brasileira deverá atingir 444 milhões. “O Brasil perdeu a corrida do
aço, mas pode ganhar a do minério de ferro. Para isso, precisamos correr
porque além da Austrália aumentando a produção ainda tem o oeste
africano. A África vai vir, já está vindo. Ela será uma grande
competidora do Brasil”, avalia.
A previsão toma como base o fato, segundo ele, de a China
consumir hoje 1,2 bilhão de toneladas de minério ante a produção de
apenas 400 milhões, em geral com teor de ferro muito baixo. Símbolo do
desenvolvimento nos padrões do tempo que consumo sustentável não era
jargão, o aço é um dos principais pilares do urbanismo. Não à toa, o
consumo atual chinês de aço é de 1,4 bilhão de toneladas, atingido em
2011. “Para completar a demanda, os chineses usam produção própria com
custo muito alto. Tem empresa produzindo a US$ 160 a tonelada de
concentrado de ferro”, diz.
A competição com países africanos como Guiné, onde a Vale
pretende desenvolver projeto para aproveitar a reincidência de corpo
mineral similar ao da mina de Carajás, no Pará, a maior a céu aberto do
globo, mantém a Ferrous confiante no cenário futuro de lucro.
Embora não revele o valor do custo atual de produção, o que
pode afetar as negociações de venda, Nicolato diz que “até US$ 50” o
valor da tonelada vendida à China ainda é competitiva para a mineradora.
*O jornalista viajou a convite da empresa
Fonte: ig.com.br
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